Canoa que de tardinha,
Com o Sol quase morrendo,
Passa às margens da Matinha,
Com o Tocantins correndo.
Desliza o Rio com carinho.
O remo à popa batendo,
Afunda devagarinho,
Sutil rebojo fazendo.
Nas costas do velho Rio,
O caboclo vai remando.
Da tarde curto o pavio,
Vai pra casa regressando.
As luzes do cais do porto,
Já ensaiam se acender.
O vento, que é leve e solto,
Vem as águas remoer.
A canoa baila solta,
Na mareta que se enruga.
O caboclo o remo amoita,
Para ao casco não dar fuga.
Vai descendo de bubuia,
Mais parece mururé.
Passa em frente do fubuia,
Cheirando a tucunaré.
O farol na ponta avista,
Quase em casa pra chegar.
O vento assopra e ele pisca,
Lembrando de Cametá.
O Sol agora é finado
E a canoa sombra é,
Mas não tem pressa o danado.
Tocantins não tem maré.
Canoa, toma cuidado!
Tu não tens nem lamparina...
Facilitas um bocado,
Navega pela beirinha.
No remo o caboclo descansa.
Do bolso o porronca tira.
A Lua pro alto avança,
Mas é no Rio que se mira.
Já na feira a barca passa
E o porronca no final.
O caboclo, a proa traça
Na direção do Mangal.
A canoa sabe o rumo
E acelera o remo o passo.
O caboclo pega prumo
E dá cadência ao compasso
Rema, caboclo, ligeiro!
Pois enquanto tu tragavas,
O vento, morno e faceiro,
Em teu barco viajava.
Se não cuidares na reta,
Vais chegar na ponta grossa:
A pirarara te pega
E a cobra grande te enrosca.
O caboclo aperta o remo
E a canoa faz bigode
Num Tocantins já sereno.
Afinal, o caboclo salta,
No raso da ribanceira.
A Lua já brilha alta
E a canoa sobe à beira
Pelo caboclo puxada.
Agora descansa em terra,
Vai dormir iluminada.
Ser pasto de vaga-lumes
E só acordar na alvorada.
E de novo correr água,
Fazer mais uma empreitada.
Esta sorte é que lhe cabe,
Quando finda a madrugada.
E voltar de novo ao porto.
Vai ser sempre esta a sina.
Do caboclo leve e solto
E da barca tocantina...
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